segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma tentativa de definição.

Eu não gosto de definir pessoas.
Muito menos a mim mesma, pois não quero cair na armadilha de supor conhecer aquilo que (supostamente) me seria familiar.

Mas um dia, no meio de um domingo cinza, encontrei em um livro de Clarice Lispector quase que um espelho.

“Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem – pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come ás vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com o seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai.”

Clarice Lispector, em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres.

2 comentários:

  1. A poesia tem dado à história, dentro do quadro das artes, o maior, de longe o maior número de santos e de mártires. Pois, individualmente, o poeta é, ai dele, um ser em constante busca de absoluto, e socialmente, um permanente revoltado.



    Vincius de Moraes

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  2. Obrigada André pelo comentário, volte sempre!
    Grande Vinícius...Concordo...

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