quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Renovar-se


Esta é a minha época favorita do ano.
Apesar de...
Apesar da correria, dos prazos apertados, das metas a serem cumpridas até que o ano acabe, pessoas partindo do cenário urbano, pessoas se (acotovelando, espremendo, concentrando) em praias da moda... lojas lotadas, cinemas vazios.
Apesar de tudo isso, se prestarmos atenção, será possível sentir. A renovação.
Algo sutil que nos lembra, como uma voz branda, que sem a mudança não é possível continuar caminhando.
Que precisamos evoluir e prosseguir a marcha, nos desprendendo daquilo que não nos serve mais e pedindo, acreditando naquilo que nos fará crescer, trará nossa alegria e realização.
Certo, nem tudo foi exatamente do jeito que planejamos.
Dores existiram, com certeza: isso faz parte da condição humana.
Aborrecimentos, perdas, chateações, entraves...
Mas, apesar de... continuamos.
Eu gosto de pensar no exemplo da flor de lótus, um dos símbolos mais bonitos da cultura oriental.
A flor de lótus cresce em ambientes “hostis”: sujeira, lama e lodo. Surpreendentemente, mesmo nessas condições, a flor transforma esses elementos em nutrientes para seu desenvolvimento e nos presenteia com uma das visões mais belas da natureza. Isso é a transcendência.
E nós também somos assim.
E apesar de qualquer coisa...
Nesses dias nos reunimos, celebramos junto àqueles que amamos e renovamos nossa crença em dias melhores.
Nos empenhamos em transcender aquilo que aparentemente nos atrapalha, para ressurgirmos, renovados.
Prontos para o novo. O novo ano, a nova vida, a nova atitude.
Prontos para oferecer ao mundo aquilo que há de melhor em nós mesmos.

Gostaria de terminar a última postagem de 2009 com uma frase de Pema Chodron :
“A transformação nunca acontece através da cobiça, da pressão ou da luta. Acontece através de uma mistura de aceitação de quem você é e, ao mesmo tempo, do reconhecimento de que a sua capacidade e a capacidade de todos os seres vivos não têm limites.”

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Uma tentativa de definição.

Eu não gosto de definir pessoas.
Muito menos a mim mesma, pois não quero cair na armadilha de supor conhecer aquilo que (supostamente) me seria familiar.

Mas um dia, no meio de um domingo cinza, encontrei em um livro de Clarice Lispector quase que um espelho.

“Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse a casa dele, e é. Trata-se de um cavalo preto e lustroso que apesar de inteiramente selvagem – pois nunca morou antes em ninguém nem jamais lhe puseram rédeas nem sela – apesar de inteiramente selvagem tem por isso mesmo uma doçura primeira de quem não tem medo: come ás vezes na minha mão. Seu focinho é úmido e fresco. Eu beijo o seu focinho. Quando eu morrer, o cavalo preto ficará sem casa e vai sofrer muito. A menos que ele escolha outra casa e que esta outra casa não tenha medo daquilo que é ao mesmo tempo selvagem e suave. Aviso que ele não tem nome: basta chamá-lo e se acerta com o seu nome. Ou não se acerta, mas, uma vez chamado com doçura e autoridade, ele vai.”

Clarice Lispector, em Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres.

domingo, 22 de novembro de 2009

Indefinições

Se eu não for o que tu queres,
Deixe-me ao menos ser eu mesma
De cacos colados e cicatrizes
Frases imperfeitas, atitudes exatas: eis-me aqui.

Se eu não sou exatamente o que desejas,
Expressarei meus desejos ao mundo, e
Neste tão grande e caótico mundo,
Há de haver espaço para o desejo de uma mulher.

Se eu sou demais para ti,
É porque nem sempre caibo em mim mesma,
Transbordo e extrapolo, desconhecendo limites claros
Que ainda estou buscando...

Se algum dia te assustei, porque em mim viste algo extremo
Não queiras classificar-me, pois
Não caberei em teus conceitos
Mas te permito olhar-me mais, e mais uma vez ainda.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Verdade interior

Esta semana refleti muito sobre a verdade de cada um. O que exatamente nos define como seres únicos?
O que pode mudar em nós ao longo de nossas vidas e o que permanece como a verdadeira essência de alguém?
Será que o que muda ao longo dos anos é a nossa essência, ou nos permitimos revelar a nossa essência ao longo da vida, á medida que nos desvencilhamos de condicionamentos, falsas crenças e ilusões juvenis?
Eu acredito mais na última hipótese...mas ainda posso mudar de opinião.

Autenticidade é ter coragem de ser aquilo que se é.
Feliz daquele que se permite ser verdadeiro, sob qualquer circunstância.
Essa é a liberdade, muitas vezes tardia, mas sempre desejada.

Posto aqui um texto anônimo, extraído do livro “Autossabotagem”, de Bernardo Stamateas, que reflete isso de uma forma metafórica:


“Era uma vez, no país das Pedras, uma pequena pedra que estava empenhada em ser uma pedra preciosa para ser importante e admirada por todas as outras. Por isso tinha em sua casa uma impressionante coleção de fantasias. Tinha de esmeralda, de rubi, de safira, de diamante, de prata e de ouro. Eram reproduções quase exatas. Quando as vestia, pareciam realmente verdadeiras.
E a isso havia que acrescentar quão bem a pequena pedra interpretava seu papel. Quando estava disfarçada de esmeralda, falava como as esmeraldas, caminhava como as esmeraldas, comportava-se como as esmeraldas. Não havia detalhe que lhe escapasse e que a pudesse delatar.
Mas tinha que ter cuidado com uma coisa: não podia receber diretamente a luz do sol, porque então descobririam que não era transparente como as verdadeiras esmeraldas. O mesmo acontecia com as fantasias de rubi, de safira e de diamante. De modo que só as vestia á noite ou ao entardecer. Durante o dia, disfarçava-se de ouro ou de prata. Mas, com essas fantasias, havia o perigo contrário: quando não batia a luz do sol, deixavam de parecer ouro ou prata verdadeiros. Porém, a pequena pedra mantinha tudo muito bem controlado.
E assim foi passando sua vida. Ninguém se deu conta da trapaça. Os que a conheciam como esmeralda tinham por ela uma grande admiração e apreço. E o mesmo ocorria com os que a conheciam como diamante, como ouro, como safira, como rubi ou como prata.
Mas um dia, estando a pedra tomando sol fantasiada de ouro, um homem que passava por ali ficou deslumbrado com seu brilho e a pegou. Ao ver que era ouro, deu um pulo de alegria e foi correndo consultar um joalheiro para que lhe dissesse qual era o seu valor. Mas, quando o joalheiro a examinou, viu que era uma simples pedra coberta por uma capa dourada. Então, o homem, desiludido, jogou-a pela janela.
Ao cair no chão, a pedra quebrou-se em mil pedaços e, surpreendentemente, viu-se que seu interior estava ocupado por um diamante de grande qualidade e de um valor incalculável. Um diamante que nunca pudera sair á luz porque a pequena pedra havia se empenhado durante toda a vida em imitar outras para ser valiosa e importante
.”

terça-feira, 13 de outubro de 2009

O olhar do estrangeiro, o olhar do viajante, o olhar do filósofo

Eu estou de férias. Minhas férias começaram no dia 9 de outubro, e como não poderia deixar de ser, antes de deixar meu trabalho ouvi as perguntas de sempre, dos meus colegas de empresa.
- E aí, o que vai fazer? Vai viajar para onde? Por quanto tempo?

Minhas respostas, sinceras e simples, os surpreenderam. “Não sei ainda”, e sugeri algumas possibilidades pouquíssimo empolgantes.
“Não viajarei” e “Apenas o tempo suficiente” (Será que alguém considera algum tempo suficiente para qualquer coisa que seja? Daria um tema de post).
Pude sentir a frustração, em alguns. Explico: tenho alma de viajante. Daquelas que são capazes de pegar um avião de mochila nas costas, com um destino, mas sem nenhum roteiro.

Sair andando, perambulando em uma cidade desconhecida, entrando em cafés, livrarias, bares. Olhar os parques, as praças e principalmente, as pessoas: como elas são? O que transmitem? Como falam? Quais as palavras, quais os semblantes? Ler em seus rostos a receptividade e a empatia. Ou o estranhamento. Todas as possibilidades são interessantes e me atraem.

Que não me venham com folhetos turísticos e passeios agendados. De programações determinadas, já basta a minha rotina doméstica. Meu objetivo, em uma viagem, é permitir que a cidade se revele. Não forçar. Não persuadir. Apenas seguir. E, seguindo um caminho que não estava pré-determinado, surpresas interessantes sempre acontecem. E eu não as procuro, elas vêm a mim.

Mas dessa vez, vou ficar. Como sou recém chegada na cidade, ainda conservo meu olhar de estrangeira: me permito andar apenas pelo prazer de descobrir. E descobrir em minha própria língua pode ser até mais encantador para uma apaixonada por palavras.

E o olhar da viajante, que encara tudo como um novo ponto de chegada, de onde um dia irei partir: não sou, apenas estou. Impermanente. E livre.

A pergunta: por que temos que perder este encanto, o deslumbramento, com as pessoas e coisas que nos são “familiares”? Se somos seres em constante mutação, e se tudo muda ao nosso redor, por que fixamos, rotulamos e classificamos? Pessoas, comportamentos, lugares.

“Ela agiu assim porque é assim”... Quem disse?
“Mais cedo ou mais tarde, eu sabia que ele se comportaria desta forma”...Como sabia?

Porque nada me surpreende mais do que uma pessoa. Uma pessoa contém um Universo em si. Tento, ao máximo possível, me desfazer das minhas crenças e rótulos internos sobre as pessoas ao redor de mim. Quero dar-lhes a chance de se revelarem, não pelo meu olhar ou condicionamentos, mas por elas mesmas. Ás vezes faço perguntas desconcertantes, investigo, exploro. Porque a vida me convidou, muitas e muitas vezes, a me desconstruir e reconstruir. E é justo que seja assim com todas as pessoas, para o bem da humanidade!

No fundo , acredito que a sensação (falsa) de “conhecer profundamente” e de “pertencer” são mecanismos internos que usamos para nos proteger do mistério, do desconhecido. Tentamos nos convencer de que estamos pisando em um terreno seguro, familiar, uma rocha. Mas, adivinhe: de uma hora para outra, a rocha se desfaz! Vira areia movediça sob nossos pés. Nos obriga ao movimento, nos põe de volta á jornada. E isso pode ser interessante. Pode até ser desconfortável, a princípio. Mas pode ser também exatamente o que estávamos precisando.
Porque muitas vezes, o “pertencer” e o “conhecer” são formas de aprisionar e iludir.

Segundo Jostein Gaarder (O mundo de Sofia, O dia do curinga...):

“A única coisa que precisamos para sermos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas


Sim, em negrito. Pare e leia de novo. Leia mais uma vez. Leia devagar, sinta cada palavra e depois, apenas depois, prossiga lendo o texto.

Eu acrescento: a única coisa que precisamos para mantermos a capacidade de nos admirar com as coisas, é de um olhar livre, desvinculado, sem rótulos.
Um olhar que passeia sem o compromisso de se fixar.
Um olhar que pode ir e voltar muitas vezes.
Um olhar que vê além .

sábado, 3 de outubro de 2009

Quero me desapaixonar!

Quero me desapaixonar!

Quero me desapaixonar e olhar meu coração com imparcialidade
Aceitar que pessoas, coisas e sentimentos vêm e vão,
E que a minha vontade não tem o poder de fazer com que algo permaneça,
Quando “algo” precisa ir...

Quero me desapaixonar e olhar a mim mesma com amor verdadeiro,
Me libertar dos julgamentos e opiniões de pessoas,
Pois elas não têm o poder de me fazer sentir bem ou mal,
Triste ou feliz
Apenas me permitir ser e sentir...

Quero me desapaixonar e olhar tudo por outro ângulo,
Quero a liberdade dos “desapaixonados” na vida
Livres, felizes, sem carregar nada além de sua própria essência.

Quero me desapaixonar,
Deixar de suspirar,
De esperar,
De desesperar
E apenas VIVER.

Quero me desapaixonar
Deixar ir o ontem,
E delegar ao amanhã o cuidado de si mesmo,
E apenas permanecer aqui, em meu melhor lugar.
Apaixonadamente.


por Mariana Conceição

domingo, 27 de setembro de 2009

Um pouco de poesia...

... e uma reflexão verdadeira, nas palavras de Rumi, poeta e mestre sufi do século XIII:



“Ninguém fala para si mesmo em voz alta.
Já que todos somos um,
falemos desse outro modo.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma
Fechemos pois a boca e conversemos através da alma
Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.”


“Passado e futuro afastam Deus de nossa vista, ponha fogo em ambos.”

domingo, 20 de setembro de 2009

Soulmates

Dedico este post a todos os meus companheiros de alma, agradecendo...
Por me enxergarem dentro de mim mesma, nas diferentes fases, circunstâncias e situações. Por me ajudarem a olhar para dentro de mim e encontrar minha verdadeira essência.

Soulmates – Companheiros de Alma

Amo a palavra soulmate. Gosto mais da versão inglesa do que em português, “alma gêmea”.
Porque alma gêmea, em português, me lembra algo pela metade. Como se sua alma fosse incompleta e precisasse de uma gêmea, uma outra para te completar.
Algumas pessoas acreditam nisso. Não desrespeitando crenças individuais, apenas discordo. Acredito que qualquer relacionamento, para ser saudável, não deve se basear naquilo que supostamente está “faltando”. Carência só gera frustração e dor.
Nada de bom pode ser criado através da carência e da dependência emocional de um outro ser, seja ele pai, mãe, filho, irmão, amigo ou companheiro/a.
Todas as coisas boas nascem da plenitude, não da carência.
Voltando á soulmate... A tradução literal do inglês não quer dizer alma-gêmea, e sim algo como companheiro/a de alma.
Esse conceito é mais amplo. Todo mundo sabe quando encontrou um companheiro da sua alma. Essas pessoas podem estar em qualquer lugar, mas estão sempre junto de você. Pode ser alguém da sua família. Pode ser algum amigo especial. Pode ser um grande amor. Ou um grande mestre.
O que estas pessoas te dizem toca imediatamente o seu coração e acende uma luzinha na sua alma. Algo que te soa familiar, como se você já tivesse ouvido aquilo antes, ou aquilo era exatamente o que você precisava ouvir agora... você se sente em casa perto destas pessoas. Mas não há cobrança. O momento com elas é perfeito, mesmo sendo imperfeito: vocês permitem que tudo seja do jeito que é.
Estas pessoas podem ter ido embora da sua vida, morar em outra cidade ou outro país. Vocês podem ter passado meses, anos sem se falar. Então, por algum motivo, se reencontram, e é como se nunca tivessem se separado.
Acredito que estas pessoas são raras em nossas vidas.
Por isso são tão especiais para nós.
por Mariana Conceição


Citando Clarissa Pinkola Estés, em Mulheres que correm com os lobos (novamente...)

“ Ter um companheiro/amigo que a considere como uma criatura viva em crescimento, tanto quanto uma árvore que cresce a partir do chão...
...um companheiro e amigos que apóiem a criatura que existe em você...são essas as pessoas por quem você está procurando.Elas serão amigas da sua alma pela vida afora.
A escolha criteriosa de amigos e companheiros, para não falar nos mestres, é de importância crítica para continuar consciente, para continuar intuitiva, para manter o controle sobre a luz incandescente que vê e sabe”.

domingo, 13 de setembro de 2009

Por que este blog ?

O objetivo deste blog é extravasar uma paixão.
Uma paixão que me acompanha aonde quer que eu vá.
A natureza desta paixão, em oposição á outras que tive ao longo da vida, não é transitória: é constante, incessante, permanente e se renova a cada instante.
Ao contrário das outras paixões que já tive ou possa vir a ter, essa nunca me despertou ciúmes: permito que os objetos da minha paixão se libertem de mim e depois voltem, e que me encantem e surpreendam em novos e interessantes arranjos.
Através de uma música. Um texto curto. Um longo livro. Uma conversa com alguém, ou alguma lembrança de conversa com alguém que já se foi.
Mas as palavras sempre ficam.
E permito, e desejo até, que me encontrem outros “apaixonados”. Venham e que sejamos cúmplices, compartilho aqui o que escrevo, vejo e sinto.
Podem citar livremente o que está aqui, apenas peço que creditem devidamente os autores dos textos.

Como não poderia deixar de ser, terminarei este post com um trecho de um de meus livros favoritos, Mulheres que Correm com os Lobos, de Clarissa Pinkola Estés.

“Qual é o alimento básico para a alma? Bem, ele difere de uma criatura para outra. Seguem-se, porém, algumas combinações. Considerem-nas uma parte da macrobiótica psíquica. Para algumas mulheres, o ar, a noite, o sol e as árvores são necessidades vitais. Para outras, somente as palavras, o papel e os livros conseguem saciá-las...”

Eu acredito que sou uma destas mulheres...