terça-feira, 13 de outubro de 2009

O olhar do estrangeiro, o olhar do viajante, o olhar do filósofo

Eu estou de férias. Minhas férias começaram no dia 9 de outubro, e como não poderia deixar de ser, antes de deixar meu trabalho ouvi as perguntas de sempre, dos meus colegas de empresa.
- E aí, o que vai fazer? Vai viajar para onde? Por quanto tempo?

Minhas respostas, sinceras e simples, os surpreenderam. “Não sei ainda”, e sugeri algumas possibilidades pouquíssimo empolgantes.
“Não viajarei” e “Apenas o tempo suficiente” (Será que alguém considera algum tempo suficiente para qualquer coisa que seja? Daria um tema de post).
Pude sentir a frustração, em alguns. Explico: tenho alma de viajante. Daquelas que são capazes de pegar um avião de mochila nas costas, com um destino, mas sem nenhum roteiro.

Sair andando, perambulando em uma cidade desconhecida, entrando em cafés, livrarias, bares. Olhar os parques, as praças e principalmente, as pessoas: como elas são? O que transmitem? Como falam? Quais as palavras, quais os semblantes? Ler em seus rostos a receptividade e a empatia. Ou o estranhamento. Todas as possibilidades são interessantes e me atraem.

Que não me venham com folhetos turísticos e passeios agendados. De programações determinadas, já basta a minha rotina doméstica. Meu objetivo, em uma viagem, é permitir que a cidade se revele. Não forçar. Não persuadir. Apenas seguir. E, seguindo um caminho que não estava pré-determinado, surpresas interessantes sempre acontecem. E eu não as procuro, elas vêm a mim.

Mas dessa vez, vou ficar. Como sou recém chegada na cidade, ainda conservo meu olhar de estrangeira: me permito andar apenas pelo prazer de descobrir. E descobrir em minha própria língua pode ser até mais encantador para uma apaixonada por palavras.

E o olhar da viajante, que encara tudo como um novo ponto de chegada, de onde um dia irei partir: não sou, apenas estou. Impermanente. E livre.

A pergunta: por que temos que perder este encanto, o deslumbramento, com as pessoas e coisas que nos são “familiares”? Se somos seres em constante mutação, e se tudo muda ao nosso redor, por que fixamos, rotulamos e classificamos? Pessoas, comportamentos, lugares.

“Ela agiu assim porque é assim”... Quem disse?
“Mais cedo ou mais tarde, eu sabia que ele se comportaria desta forma”...Como sabia?

Porque nada me surpreende mais do que uma pessoa. Uma pessoa contém um Universo em si. Tento, ao máximo possível, me desfazer das minhas crenças e rótulos internos sobre as pessoas ao redor de mim. Quero dar-lhes a chance de se revelarem, não pelo meu olhar ou condicionamentos, mas por elas mesmas. Ás vezes faço perguntas desconcertantes, investigo, exploro. Porque a vida me convidou, muitas e muitas vezes, a me desconstruir e reconstruir. E é justo que seja assim com todas as pessoas, para o bem da humanidade!

No fundo , acredito que a sensação (falsa) de “conhecer profundamente” e de “pertencer” são mecanismos internos que usamos para nos proteger do mistério, do desconhecido. Tentamos nos convencer de que estamos pisando em um terreno seguro, familiar, uma rocha. Mas, adivinhe: de uma hora para outra, a rocha se desfaz! Vira areia movediça sob nossos pés. Nos obriga ao movimento, nos põe de volta á jornada. E isso pode ser interessante. Pode até ser desconfortável, a princípio. Mas pode ser também exatamente o que estávamos precisando.
Porque muitas vezes, o “pertencer” e o “conhecer” são formas de aprisionar e iludir.

Segundo Jostein Gaarder (O mundo de Sofia, O dia do curinga...):

“A única coisa que precisamos para sermos bons filósofos é a capacidade de nos admirarmos com as coisas


Sim, em negrito. Pare e leia de novo. Leia mais uma vez. Leia devagar, sinta cada palavra e depois, apenas depois, prossiga lendo o texto.

Eu acrescento: a única coisa que precisamos para mantermos a capacidade de nos admirar com as coisas, é de um olhar livre, desvinculado, sem rótulos.
Um olhar que passeia sem o compromisso de se fixar.
Um olhar que pode ir e voltar muitas vezes.
Um olhar que vê além .

sábado, 3 de outubro de 2009

Quero me desapaixonar!

Quero me desapaixonar!

Quero me desapaixonar e olhar meu coração com imparcialidade
Aceitar que pessoas, coisas e sentimentos vêm e vão,
E que a minha vontade não tem o poder de fazer com que algo permaneça,
Quando “algo” precisa ir...

Quero me desapaixonar e olhar a mim mesma com amor verdadeiro,
Me libertar dos julgamentos e opiniões de pessoas,
Pois elas não têm o poder de me fazer sentir bem ou mal,
Triste ou feliz
Apenas me permitir ser e sentir...

Quero me desapaixonar e olhar tudo por outro ângulo,
Quero a liberdade dos “desapaixonados” na vida
Livres, felizes, sem carregar nada além de sua própria essência.

Quero me desapaixonar,
Deixar de suspirar,
De esperar,
De desesperar
E apenas VIVER.

Quero me desapaixonar
Deixar ir o ontem,
E delegar ao amanhã o cuidado de si mesmo,
E apenas permanecer aqui, em meu melhor lugar.
Apaixonadamente.


por Mariana Conceição