quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mudança de perspectiva...

Hoje resolvi escrever algo que surgiu através de uma conversa com um amigo. É uma opinião pessoal.
A observação pertinente dele é que, de alguma maneira hoje, nas pessoas não conseguem se sentir satisfeitas com o que têm. A exposição á bens de consumo cada vez mais tecnológicos e melhores, o desejo de satisfação instantânea e constante, faz com que pessoas olhem para suas vidas com insatisfação permanente, desejosas sempre por mais. E intolerantes com a vida, caso ela lhes ofereça menos.
Estranhamente, encontrei esse conceito num texto de um lama budista, Padma Samten.
Em seu maravilhoso e esclarecedor “Uma breve introdução ao budismo”, o lama define essa insatisfação com um termo em sânscrito : “duka”.
“Segundo o budismo, existe um "sentimento" que chama-se DUKA, não existe tradução ocidental, mas é algo como que, no ciclo da vida tudo o que acontece de bom, proporcionalmente algo ruim acontece também, como que em um Yin Yang que quando estamos na parte preta, queremos adiantá-la(e normalmente ela parece eterna...) e quando estamos na branca queremos prolongá-la, mas elas são completamente proporcionais em intensidade e sentimento, o importante é o desapego no resultado e a sabedoria durante esse processo...”
-Extraído do fotolog Buda Sakyamuni
Nenhum sentimento é mais humano do que evitar o sofrimento.
Consequentemente, faz parte também da condição humana a busca por prazer e satisfação. Nascemos com os 5 sentidos superexcitáveis...os publicitários sabem disso, os vendedores, os atores, as prostitutas, os padres, os pastores evangélicos, os bebês de qualquer espécie... as mães.
O mundo se oferece continuamente aos nossos pés para ser explorado. Degustado, consumido.
E essa busca sem limites por satisfação, de acordo com meu amigo, corrompe as pessoas. Pois muitas delas esquecem de seus princípios morais básicos buscando cada vez mais.
Esquecem quem são, e esquecem que SER é infinintamente maior do que ter.
Em meu ponto de vista, o fato de desejar não é, em si, algo ruim. O desejo é a força que nos mantém vivos. É o que nos faz levantar da cama todas as manhãs, o que faz com que o mundo evolua. A força motriz da nossa espécie.
O que corrompe não é o desejar, é o esquecimento daquilo que se é. É a negação do ser, da alma, em prol da obtenção do desejo. É parar de escutar sua essência, porque o barulho mundano parece mais atraente. É deixar de plantar suas próprias sementes, porque o jardim do vizinho parece mais viçoso. É ter um olhar voltado para o que está fora, e deixar de ver aquilo que está dentro.
Existe uma história...
“Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise.Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:
- Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
- Não, não tenho – disse o estranho – O que tem nesse baú debaixo de você?
- Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
- Nunca nem olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
- Não – respondeu – Para que? Não tem nada aqui, não!
- Dá uma olhada aí dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar que o velho caixote estava cheio de ouro.”

Essa é uma das minhas metáforas favoritas...ás vezes o que queremos já está em nós.

Agradecendo á fonte...
* Para saber mais sobre budismo tibetano, e o lama Padma Samten: http://www.cebbsp.org/
** A história foi extraída do livro “O poder do Agora”, de Eckhart Tolle