quinta-feira, 14 de julho de 2011

O todo e todas as suas partes (“The Big Picture”)



Existe uma expressão em inglês que sempre me vêm á mente, “the big Picture”.
Encontrei traduções meio imprecisas, coisas como “a grande cena” ou “o grande quadro”, que eu acredito que não se aproximam muito do original...
Mais especificamente, a frase que constantemente me vêm á cabeça é que se não estou entendendo algo nesse exato momento é porque não consigo ver “the big Picture”.
Se não entendo algo agora é porque não sou capaz de encaixar o que vejo no contexto final da grande cena, do grande quadro.
Essa minha mania de tentar entender todas as coisas que me tocam vem de longe.
Apenas para exemplificar essa quase patologia que ás vezes deixa as pessoas ao meu redor um pouco intrigadas...
Há uns 15 anos atrás, eu e minha amiga Jenifer tínhamos um jogo. Quando algo nos tirava dos eixos, costumávamos perguntar á vida o porquê de aquela situação estar acontecendo. Perguntávamos de coração aberto e da maneira mais direta possível, e esperávamos por uma resposta, que SEMPRE vinha. Era incrível, a resposta sempre vinha, mas de jeitos diferentes. Para ela, que eu me lembre, a resposta vinha muito direta, inteirinha e de uma vez. Poderia estar num trecho de um livro que ela abrisse ao acaso, por exemplo.
Para mim, a resposta vinha fragmentada, como num quebra cabeça que eu ia montando até chegar á uma conclusão final. The big Picture.
E então as coisas iam fazendo sentido, mas era como assistir a filme de trás para frente, montando os quadros a partir de fragmentos, aparentemente desconectados entre si.
(Sim, eu faço isso até hoje, e tudo o que recebo são fragmentos, ainda.)
O que me lembra outra cena do meu passado, quando eu estava em NY visitando minha amiga Carla, em 2002.
Fomos ao MOMA, o museu de arte moderna, que na época estava no bairro do Queens.
Havia uma fila para olhar o quadro que ilustra esse post, “A noite estrelada”, de Van Gogh. As pessoas iam, uma a uma, olhando o quadro e depois saíam.
Eu não pude sair. Eu fiquei estática e fascinada, olhando aquele quadro. Ele teve um efeito hipnótico sobre mim, e eu me lembro dos detalhes da pintura até hoje, como se estivesse na minha frente agora. O segurança do museu teve que intervir para me tirar dali, porque eu simplesmente não me dei conta de que já era hora de sair.
Cada pincelada de Vincent apontava para uma direção diferente. Havia círculos, traços á direita e á esquerda, numa dança sem sentido de cores e formas.
As estrelas não se pareciam estrelas, á primeira vista. A lua não se parecia com a lua que estamos acostumados a ver no céu, e a cidade “adormecida” não parecia dormir.
Ao dar um passo atrás para contemplar o grande quadro, vi os elementos caóticos se compondo e senti a intensidade da noite mais brilhante, magnífica, única, sublime, que transmitia a visão de um ser humano que jamais escondeu a ALMA que carregou (ás vezes atormentada, como um fardo nas costas de um anônimo trabalhador).
Naquele momento, eu vi a minha vida naquela grande cena
.

Quadro de Vincent Van Gogh, "A noite estrelada"

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